Com uma vida dedicada a cuidar dos mais pobres, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes tornou-se, ainda cedo, Irmã Dulce. Aos 13 anos, ela descobriu a sua vocação religiosa. Porém, a futura beata tinha outra vocação que era pouco conhecida, mas que ela não fazia questão de esconder. Antes de se entregar à santidade, a Bem-aventurada Dulce dos Pobres dedicava-se com fervor a outra religião: o futebol.
- Quando eu era pequena eu adorava ir para a rua brincar de bola – disse a religiosa, em uma entrevista à TV Bahia, em 1986, quando falou de forma detalhada sobre sua relação com o futebol.
Neste domingo, Irmã Dulce será beatificada, em uma cerimônia em Salvador. A beata teve um milagre reconhecido pela Igreja Católica, que teria sido realizado em 2001, nove anos após sua morte.
A santa que gritava gol
Campo do bairro da Graça, principal praça esportiva da capital baiana. 1928. O futebol estava nas graças do povo. Quase sete mil apaixonados costumavam lotar o estádio em dias de domingo. O Ypiranga era o grande time da época. Comandado por Apolinário Santana, o Popó, simplesmente um dos maiores jogadores da história do futebol baiano, o time do povo caminhava rumo ao título estadual. Na arquibancada, o cirurgião dentista Augusto Lopes Pontes fazia coro com os demais torcedores:
Campo do bairro da Graça, principal praça esportiva da capital baiana. 1928. O futebol estava nas graças do povo. Quase sete mil apaixonados costumavam lotar o estádio em dias de domingo. O Ypiranga era o grande time da época. Comandado por Apolinário Santana, o Popó, simplesmente um dos maiores jogadores da história do futebol baiano, o time do povo caminhava rumo ao título estadual. Na arquibancada, o cirurgião dentista Augusto Lopes Pontes fazia coro com os demais torcedores:
Eu ia todo domingo para o Campo da Graça"
Irmã Dulce, em 1986
- Chuta, chuta, Popó chuta/Chuta por favor/Mela, mela, mela, mela/Mela e lá vai gol.
Ao lado dele, sua filha, uma menina apaixonada por futebol também entoava a canção. Era Irmã Dulce. Encantada com futebol, a religiosa fez questão de lembrar, durante toda a vida, que era frequentadora dos estádios e torcedora do Ypiranga. O “Mais Querido”, como é conhecido o time amarelo e preto, era a equipe de maior torcida na Bahia. Para se ter uma ideia da força do clube, até o final dos anos 40, o Ypiranga disputava com o jovem, mas já vitorioso, Bahia o título de maior campeão do estado.
- Eu ia todo domingo para o Campo da Graça com meu pai ver futebol. A gente voltava sem poder falar – contou Irmã Dulce, em 1986.
- Eu ia todo domingo para o Campo da Graça com meu pai ver futebol. A gente voltava sem poder falar – contou Irmã Dulce, em 1986.
No título nacional da Seleção Baiana, conquistado em 1934 contra a Seleção Paulista, o Ypiranga foi representado por vários jogadores. Naquela época, somente os atletas de famílias mais ricas eram aceitos nos clubes. Além disso, poucos negros podiam jogar futebol. O Ypiranga ganhou fama justamente por quebrar esses preconceitos. Nomes como Popó e Pedro Braz, herói na conquista de 34, ficaram marcados por romper essa barreira. A inclusão e o respeito pelo próximo demonstrados pelo Mais Querido encantaram Irmã Dulce, que, anos depois, iria encarar uma dura batalha em favor dos mais pobres.
- Eu era fã do Ypiranga – revelou.
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